Estalagem Sabertooth

Por desatenção não viu a mulher se aproximar. Quando se virou e olhou em seus olhos, não conseguiu mais desviar.  Perdeu o raciocínio e a fala por alguns segundos olhando em seus olhos, antes de perceber o quão idiota deveria estar parecendo. Ele se levanta abruptamente com o rosto rubro, mas disfarçou o máximo possível.

-- Não sei onde o GM esta mas... -- Disse simpático apesar de fazer força para formular as frases. Sempre foi tímido com as mulheres -- Sou Jesper... Estou preso neste mundo assim como você. Por favor, se sente e conte o que esta havendo, deixe-me ajudar a sairmos daqui -- Foi até a cadeira em frente a sua e a puxou, convidando a guardiã.

Ao que parecia a garota estava com importantes informações sobre o que aconteceu e precisava encontrar um GM, aquilo valia muito mais a pena do que caçar monstros, ou aprender habilidades. Em meio a tantas ilusões finalmente poderia encontrar algo verdadeiro. Esperaria até que ela se sentasse para retornar a seu acento.

-- Sei que me conheceu agora e não tem porque confiar em mim... -- Sentia que precisava se abrir antes de pedir algo -- A verdade é que não sou isso aqui... Jesper diz tudo o que quer, é corajoso e exibido... Eu sou só um cara qualquer -- Fala sentindo que aqueles olhos verdes, sem maldade alguma, estavam funcionando como um soro da verdade. "Será algum tipo de magia?" Se perguntou por alguns segundos.

-- Este mundo é uma prisão... nem mesmo a morte nos tira daqui... Não conte a ninguém por enquanto... eu morri e voltei para a catedral -- Seus olhos ficaram tristonhos -- Por isso quero te ajudar se for para buscarmos uma saída, também quero encontrar o GM! -- Olhou determinado.

Se inclinou um pouco cara frente. Estar ali fazia com que aquilo que viu não tivesse importância, simplesmente não doía mais. Respirou fundo e a olhou nos olhos.

-- Existe um mundo intermediário... -- Pensou um pouco melhor -- ... Pelo menos parece que existe, pode ter sido coisa do meu subconsciente... Tive que me confrontar com meus erros e depois fui para o que parecia o servidor teste que seria como a lua! -- Colocou os dois braços na mesa -- Difícil explicar bem, mas garanto que não é divertido... muitos pensariam que é tudo só uma brincadeira Ficou sério.

Não sabia ao certo se ela estava apenas curiosa, preocupada, ou se queria apenas conversar. Porém a atenção que ela dirigia o mantinha com o rosto rubro -- Não contei nada disso pra ninguém... e você nem me disse que seu nome é Tsubaki -- Disse olhando seu nick pelo menu -- ...Vejo que é japonesa... esse é seu nome real? -- Sorriu, sentia falta de falar com as pessoas sem papeis ou personagens para interpretar

Por ficar constrangido acaba mudando de assunto do nada -- Acha que os GMs estariam escondidos? Devem haver muitos players atrás deles -- Segurou o queixo reflexivamente -- Tem alguma pista? -- Quando formulou a pergunta se deu conta que a tarefa da guardiã era quase impossível, ela realmente precisa de muita ajuda.

Estava a muito tempo sem falar com ninguém, talvez por isso tenha baixado a guarda e dito tudo o que pensava, revelando tudo sem se pensar que aquilo poderia ser demais para ela. Realmente não deveria dizer tudo o que pensa e sempre mostrar ser forte, ou as pessoas ao redor cairiam. Se levantou e segurou em seus ombros com firmeza olhando fixamente.

-- Desculpe por dizer tantas coisas perturbadoras assim de repente Tsubaki. Juro que enquanto eu for vivo lutarei para que voltemos ao nosso mundo e para que nada de mau lhe aconteça -- Súbito voltou à si corando totalmente e se sentou desviando o olhar -- É meu dever como bardo... Sem contar que não temos certeza absoluta sobre muita coisa, não adianta se desesperar. Lutei contra um javali mas seus olhos eram vermelhos e vazios --

Respirou fundo e fechou os olhos -- Eu fiz tudo errado... Tentei salvar um jogador, mas acabei morrendo diante de uma garotinha, sem contar com os NPCs que não pude proteger -- Aquilo o incomodava profundamente mas falou como se só estivesse constatando fatos, não queria mais ninguém além de si mesmo preocupado -- Nós temos mãos para forjar o mundo como quisermos, mas percebi que ninguém vai muito longe sozinho... não quero repetir o mesmo erro, eu vou com você! -- Clicou em "aceitar" e sorriu para ela -- Amanha? Onde estão seus equipamentos? Do que precisa? -- Perguntou calmo

Bateu na testa percebendo que havia se esquecido de algo -- Quase que me esquecia... Meu nome é Kenichi e eu sou de Fukushima, eu tentei, mas não pude ser bardo no nosso mundo -- Estendeu a mão para a guardiã.

Observou que havia constrangido a garota e resolveu não a assustar demais. Quando se levantou dizendo ter perdido a espada ele se levantou rápido para a seguir. Desarmada ficaria vulnerável, como se já não bastasse estar sem armadura nenhuma. Mas ficou em silêncio ao ver que eles estava falando com outra pessoa. Seria o grupo dela? A resposta veio rapidamente quando ela o convidou para o grupo. Aceitou vendo logo os membros que faziam parte: "Misato" e "Makoto". Jesper os tinha visto antes, porém pelas circunstâncias não se preocupou com nome algum. Notou preocupado que a diferença de leveis da guardiã para os outros membros era de 2 leveis, poderiam a envolver em perigos que estivessem além do poder dela, sem armamentos bons ela só estaria se arriscando.

Vendo que tinha terminado a conversa tentou segurar sua mão para chamar sua atenção, mas recua apenas passando os dedos em suas mãos -- Seus amigos são fortes, deveria se preocupar mais com você mesmo... -- Coça a cabeça sem graça procurando o que falar -- Sei que acabamos de nos conhecer e não deveria sair dando palpites... Mas realmente acho muito arriscado fazer party com jogadores mais fortes sem equipamento algum -- Se sentia cada vez mais abusado -- ... Eu poderia te emprestar dinheiro e você pode me pagar conforme for ficando mais forte e conseguindo itens... --

Sabia que era o cumulo da folga, mas não queria ser responsável pela morte de ninguém além de sua própria. Mesmo que fosse odiado por isso, ou olhado com desconfiança, não poderia a deixar correndo tantos riscos sem peso na consciência caso ela morresse. Talvez ninguém além dele entendesse que mesmo voltando a vida, a morte ali era real de alguma forma. Agradeceu aos céus por não ter dito o que pensava sobre perder parte das memorias ao perder a vida.

-- Agora fazemos parte de um grupo, devemos cuidar um do outro não é? Espero que me proteja também -- Sorriu simpático

Jesper arregalou os olhos quando viu a mesma curandeira que encontrara com os aventureiros que lutavam contra Lancelot. Ela era muito nova e impulsiva, talvez se contasse se espantasse e revelasse tudo para as pessoas da estalagem, as deixando espalhar a noticia como uma epidemia. No calor da batalha adicionara a menina para lhe fazer um pedido, agora aquilo parecia ter sido uma ação tola que só servia para o denunciar. Se abaixou ficando de cocoras na frente da garota, com a guarda totalmente aberta.

-- Sim, era eu naquele dia! Desculpe por ter te assustado assim -- Sorriu e falou calmo -- Eu não morri, deixei que o guerreiro me golpeasse e antes do meu HP chegar a zero usei um item raro de teleporte que eu tinha. Assim ele pensaria ter feito justiça e pararia com a matança... Ele não era um homem mal, só estava fora de si... -- Imaginou ter construído um discurso convincente. Mas foi interrompido quando a pequena desmaiou.

Jesper foi ágil caindo de joelhos e segurando a cabeça dela para que não se chocasse no chão, pelo level dela isso não seria nada, mesmo assim era praticamente uma criança. Abaixou a cabeça com os olhos vaziou e valou baixo -- Foi tudo minha culpa! Eu fiz isso com ela... é isso o que acontece com todos que se aproximam de mim... -- Fechou os olhos -- Não consigo proteger ninguém Tsubaki-chan, seu grupo fica melhor sem mim --

Jesper correu foi ao balcão e nele deixou 35 moedas -- Quero o melhor quarto que tiver -- Pegando a chave foi até as duas. Deixou a chave cair ao lado da guardiã e saiu do grupo.

-- A deixe descansar o quanto precisar... Ela está em boas mãos -- Sorriu. -- Eu posso ver que só vou trazer problemas... Você já pode contar o que disse ao seu amigo e se eu ver algum GM te aviso -- Foi caminhando lentamente até a porta.

A simples presença do bardo fazia a menina se lembrar de todos os horror que presenciara e os membros daquele grupo a haviam adotado por assim dizer. Era o melhor para todos, mesmo assim parou quando abriu a porta.

-- Você não fez nada errado... Sera uma grande guardiã um dia! -- Falou sem olhar para trás -- Foi bom ter te conhecido! Obrigado... -- Enfim saiu dali para a deixar cuidando da menina.